Mateus

11/08/2012 17:37

 

 
Saindo, Jesus viu um homem chamado Mateus, sentado nacoletoria, e disse-lhe: "Siga-me." Mateus levantou-se e o seguiu.Estando Jesus em casa, foram comer com ele e seus discípulosmuitos publicanos e "pecadores". Vendo isso, os fariseus pergun-taram aos discípulos dele: "Por que o mestre de vocês come com publicanos e 'pecadores'?" Ouvindo isso, Jesus disse: "Não são osque têm saúde que precisam de médico, mas sim os doentes. Vãoaprender o que significa isto: 'Desejo misericórdia, não sacrifí-cios'. Pois eu não vim chamar justos, mas pecadores."
MATEUS 9:9-13
 
o AMIGO DOS FRACASSADOS
 
CONFORME JESUS SEGUIA PELA ESTRADA,
ele viu Mateus sentado noguichê da coletoria. "Siga-me", disse-lhe o Mestre. Assim, Mateus selevantou e passou a segui-lo (Mateus 9:9).O mais surpreendente nesse convite foi a pessoa convidada:um coletor de impostos. Combine a ganância de um executivo ines-crupuloso com a arrogância de um televangelista cheio de afetações.Adicione a audácia de um advogado ambicioso e a covardia de umfranco-atirador. Junte ainda uma pitada da moralidade de um cafetãoe complete a receita com o código de ética de um traficante de drogas.O que resulta dessa mistura?Um coletor de impostos do século I.De acordo com os judeus, os coletores de impostos estavam abaixodos plânctons na cadeia alimentar. César permitia que aqueles cidadãos judeus cobrassem impostos sobre praticamente tudo: o barco que vocêtivesse, o peixe que você pegasse, a casa onde você morasse e até suacolheita. Contanto que César recebesse aquilo que lhe cabia, os coletores poderiam ficar com o restante.Mateus era um
coletor público
de impostos. Coletores particularescontratavam outros para fazer o trabalho sujo. Pubhcanos como Mateusse limitavam a montar um posto de coleta nas áreas pobres da cidade ecomeçar a recolher o dinheiro. Tiravam tudo do povo.
Seu nome era Levi, e tinha origem sacerdotal (Marcos 2:14; Lucas5:27,28). Será que os pais dele aspiravam a uma carreira de sacerdote para o filho? Se era essa a intenção, ele se revelou um grande fracassoem seu círculo familiar.Pode apostar: todo mundo evitava Levi. Os vizinhos estavamorganizando um churrasco? Ele nunca era convidado. Reunião de ex-alunos da escola? O nome dele sempre era excluído da lista. O sujeitoera evitado como um vírus. Todos procuravam manter tanta distânciade Mateus quanto possível.Todos, menos Jesus. "Jesus viu um homem chamado Mateus, sen-tado na coletoria, e disse-lhe: 'Siga-me'. Mateus levantou-se e o seguiu"(Mateus 9:9).Mateus devia estar preparado. Jesus nem teve de insistir muito. Não demorou muito para os amigos esquisitos de Mateus e os segui-dores ainda imaturos de Jesus começarem a trocar 
e-mails.
"Então Leviofereceu um grande banquete a Jesus em sua casa. Havia muita gentecomendo com eles: publicanos e outras pessoas" (Lucas 5:29).Em sua opinião, o que permitiu a realização daquela festa? Vamostentar imaginar. Consigo ver Mateus voltando para seu escritório e reco-lhendo todos os seus pertences. Ele tira a placa emoldurada de "Traírado Ano" da parede e encaixota o certificado de MBA em NegóciosSuspeitos. Seus colegas de trabalho começam a fazer perguntas."O que houve, Mateus? Vai viajar em alguma excursão?""Ei, Mateus, levou um pé no traseiro?"Mateus não sabe o que dizer. Ele murmura alguma coisa sobreuma mudança de emprego. Mas, assim que chega à porta, dá uma para-da. Segurando sua caixa cheia de artigos de escritório, olha para trás.As pessoas parecem sem jeito, como se estivessem tristes e, ao mesmotempo, intrigadas.Ele sente um nó na garganta. Ah, esses caras não são grandecoisa. Os pais alertam os filhos a respeito de pessoas desse tipo. Usamuma hnguagem muito vulgar. A moralidade delas é rasa. Só se metem com gente que não presta. O segurança da boate liga para lhes desejar feliz aniversário. Tudo bem, amigo é amigo, mas o que ele pode fazer?Convidar os colegas para que também sigam Jesus? Arrã, até parece.Eles gostam tanto de pregadores quanto ovelhas gostam de açougueiros.Tente sugerir-lhes algum programa religioso na televisão. O máximoque conseguirá será convencê-los de que caprichar no topete é requisito para seguir Cristo. O que fariam se Mateus deixasse alguns folhetinhoscom a Torá sobre a mesa deles? Nada. Eles não gostam de ler.Sendo assim, sem saber o que mais fazer, ele encolhe os ombrose sacode a cabeça. "Essa minha alergia...", murmura, secando a lágrimade um dos olhos.Mais tarde, naquele dia, acontece a mesma coisa. Ele vai atéo bar para fechar sua conta. A decoração denuncia que se trata deum bar frequentado pela ralé: um lugar bagunçado e cheio de fumaçacom um letreiro de cerveja barata perto do balcão e música brega emalto volume. Não chega a ser a sede do Clube Campestre, mas Mateusse sentia à vontade parando ali no caminho para casa. Ao contar aodono do bar que está se mudando, o balconista responde: "Que é isso,Mateus? O que está pegando?
Mateus inventa uma desculpa esfarrapada sobre uma transferên-cia, mas sai do bar com uma sensação de vazio por dentro.Depois ele se encontra com Jesus durante o jantar e fala a respeitode seu problema. — São meus amigos. Sabe como é, os colegas de trabalho. E osamigos do bar. — O que tem eles? — pergunta Jesus. — Bem, a gente vivia sempre junto, sabe como é. Vou sentir faltadeles. Veja o Josh, por exemplo. Um sujeito escorregadio como ele só,mas gosta de visitar os órfãos aos domingos. Tem também o Bruno daacademia. É capaz de esmagar uma pessoa como se fosse uma barata,mas nunca tive um amigo mais leal. Pagou minha fiança por três vezes.Jesus pede que Mateus prossiga.
— E qual é o problema? — Bem, vou sentir falta desses caras. Quero dizer, não tenho nadacontra Pedro, Tiago e João, mas eles são do dia, e eu sou da noite. Tenhomeu círculo de amizades, sabe como é?Jesus começa a sorrir e balança a cabeça. — Mateus, Mateus. Você acha que eu vim a este mundo para con-finar as pessoas? O fato de uma pessoa me seguir não significa que ela precisa se esquecer de todos os amigos que tem. Pelo contrário, queroconhecer essas pessoas também. — O senhor está falando sério? — O sumo sacerdote é judeu? — Bem, Jesus, esses caras... metade deles está em liberdade condi-cional. Josh não usa meias desde que fez o
bar mitzvah...
 — Não estou falando de um culto religioso, Mateus. Deixe-me perguntar uma coisa: o que você gosta de fazer? Jogar boliche? Jogar videogame? Você é bom de bola?Os olhos de Mateus brilham. — Você precisa ver como cozinho bem. Parto para cima de um bife na chapa como o grande peixe avançou sobre Jonas. — Perfeito — Jesus comenta, sorrindo. — Então organize umafesta de despedida. Junte a turma toda e faça umas brincadeiras.Mateus adora a sugestão. Na mesma hora, liga para um bufê, paraa faxineira e a secretária. — Avise a todos, Telma. Hoje à noite vai ter comes e bebes emminha casa. Avise aos caras para virem acompanhados.Assim, Jesus dá o seu recado na casa de Mateus, um duplex comvista para o mar da Galileia. Há todo tipo de carro estacionado do ladode fora, desde BMWs até limusines. E a multidão do lado de dentromostra que aquela reunião pode ser qualquer coisa, menos uma confe-rência religiosa.Os rapazes usam brincos e as moças são tatuadas. Os cabelosestão cheios de gel. A música faz vibrar até a raiz dos dentes. No meio do grupo, todo entusiasmado, está Mateus, fazendo mais contatos que umeletricista. Ele apresenta Pedro aos membros do clube dos coletores deimpostos e Marta ao pessoal da cozinha. Simão, o zelote, encontra umacolega do tempo do Ensino Médio. E quanto a Jesus? Ele está radiante. Oque poderia ser melhor? Pecadores e santos no mesmo recinto, e nenhumdeles tentando julgar os outros. Mas quando a noite começa a avançar, a porta se abre e uma brisa gelada penetra no ambiente. "Mas os fariseuse aqueles mestres da lei que eram da mesma facção queixaram-se aosdiscípulos de Jesus: 'Por que vocês comem e bebem com publicanos e pecadores'?'" (Lucas 5:30).É aí que entra a patrulha religiosa com sua piedade de fachada.Carregam imensos livros de capa preta sob o braço. Simpáticos comoguardas de uma prisão no meio da Sibéria. Usam colares clericais tão justos que as veias chegam a saltar. Eles também gostam de chapa quen-te, mas não tem nada a ver com churrasco.Mateus é o primeiro a sentir o calor. — Que sujeito religioso, você, hein? — zomba um deles, franzin-do a sobrancelha. — Olhe só as pessoas com quem você anda.Mateus não sabe se deve ficar zangado ou fingir que não escutou.Antes que ele tenha tempo de fazer sua escolha, Jesus intervém, expli-cando que Mateus está exatamente no lugar onde deve estar. "Não são osque têm saúde que precisam de médico, mas sim os doentes. Eu não vimchamar justos, mas pecadores ao arrependimento" (Lucas 5:31,32).Que história interessante. Mateus deixa de ser um sujeito trai-çoeiro para se tornar um discípulo. Ele organiza uma festa que deixa adireita religiosa perturbada e Cristo orgulhoso. Os mocinhos parecemmesmo legais e os vilões vão embora, com o rabo entre as pernas. Defato, uma história e tanto.O que fazer com ela?Isso depende de saber em qual lado da mesa do coletor de impos-tos você se encontra. Eu e você somos como Mateus. Não olhe paramim desse jeito. Mesmo no melhor de nós, há malícia suficiente para nos qualificar ao cargo que Mateus ocupava. Talvez você nunca tenhacobrado imposto algum, mas já deturpou a verdade, assumiu um crédi-to que não lhe pertencia, tirou vantagem de alguém mais fraco. Você eeu? Mateus.Se você ainda está na mesa da coletoria, então recebe o convite:"Siga-me." E o que acontece se a sua reputação não for grande coisa?Faça como Mateus. Pode ser que você acabe escrevendo seu próprioEvangelho.Caso você já tenha deixado a mesa da coletoria, então recebe umesclarecimento. Não é necessário se tornar uma pessoa esquisita paraseguir Jesus. Não precisa deixar de gostar de seus amigos para se tornar um discípulo de Cristo. Pelo contrário: algumas apresentações serão bem-vindas. Você sabe como preparar um bife na chapa?Há algum tempo, pediram que eu participasse de um jogo degolfe. A partida incluía dois pregadores, o líder de uma igreja e um"Mateus" dos tempos modernos. A idéia de passar quatro horas comtrês cristãos, sendo dois deles mestres do púlpito, não agradou muitoesse "Mateus". Seu melhor amigo, um discípulo de Cristo e tambémseu chefe, insistiu, e então ele concordou. Tenho a satisfação de dizer que ele considerou aquela experiência agradável. A altura do nono buraco, ele se virou para mim e disse, sorrindo: "Estou muito feliz pelo fato de vocês serem caras normais." Acho que ele quis dizer oseguinte: "Fico feliz que vocês não tenham tentado me converter nem jogado um monte de versículos bíblicos na minha cara. Obrigado por rirem de minhas piadas e também por contarem outras. Obrigado por serem pessoas normais." Não tivemos de baixar o padrão, mastambém não precisamos fazê-lo sentir-se culpado. Fomos agradá-veis. Normais e agradáveis.Às vezes, o discipulado se define dessa maneira: ser uma pessoanormal.Em uma pequena comunidade rural do Estado de Arkansas, umamãe solteira tinha um bebê muito frágil. De vez em quando, a vizinha tomava conta da criança para que ela pudesse fazer compras. Depois dealgumas semanas, essa vizinha passou a oferecer mais do que apenas oseu tempo: ela também compartilhou a fé, e aquela mãe solteira fez amesma coisa que Mateus; ela se tornou uma seguidora de Cristo.As amigas da jovem mãe se opuseram. — Você sabe o que essas pessoas ensinam? — questionaram. — Vou dizer para vocês o que eu sei — respondeu ela. — Elastomaram conta de meu bebê.^Acho que Jesus gosta desse tipo de resposta, concorda comigo?