José

11/08/2012 17:26

 

 
Foi assim o nascimento de Jesus Cristo: Maria, sua mãe, esta-va prometida em casamento a José, mas, antes que se unissem,achou-se grávida pelo Espírito Santo. Por ser José, seu marido,um homem justo, e não querendo expô-la à desonra pública, pretendia anular o casamento secretamente. Mas, depois de ter  pensado nisso, apareceu-lhe um anjo do Senhor em sonho e dis-se: "José, filho de Davi, não tema receber Maria como sua esposa, pois o que nela foi gerado procede do Espírito Santo. Ela dará àluz um filho, e você deverá dar-lhe o nome de Jesus, porque elesalvará o seu povo dos seus pecados." Tudo isso aconteceu paraque se cumprisse o que o Senhor dissera pelo profeta: "A virgemficará grávida e dará à luz um filho, e lhe chamarão Emanuel",que significa "Deus conosco". Ao acordar, José fez o que o anjodo Senhor lhe tinha ordenado e recebeu Maria como sua esposa.Mas não teve relações com ela enquanto ela não deu à luz umfilho. E ele lhe pôs o nome de Jesus.
MATEUS 1:18-25
 
A ORAÇÃO DE JOSÉ
Os espaços em branco entre os versículos bíblicos constituem
solo fértil para vários questionamentos. É difícil ler as Escrituras semsussurrar algo como: "Eu fico imaginando...""Eu fico imaginando se Eva tivesse comido mais daquele fruto.""Eu fico imaginando se Noé conseguiu dormir direito durante atempestade.""Eu fico imaginando se Jonas gostava de peixe ou se Jeremiastinha algum amigo.""Será que Moisés evitava passar por arbustos? Será que Jesus con-tava piadas? Será que Pedro algum dia tentou caminhar de novo sobreas águas?"A Bíblia é uma cerca repleta de buracos através dos quais podemos dar uma espiada, mas não conseguimos enxergar o cenáriointeiro. Trata-se de um bloco de anotações todo colado com retratosde pessoas em seus encontros pessoais com Deus, mas nem sempreregistrando o resultado dessa interação. Um elenco de persona-gens dentro de uma história de importância cósmica, mas semum desenlace.Assim, somos obrigados a nos perguntar:Quando aquela mulher flagrada em adultério voltou para casa, oque disse ao marido?
Depois que o endemoninhado foi liberto, o que passou a fazer  para viver?Depois que a filha de Jairo foi ressuscitada, será que ela se arre- pendeu?Buracos na cerca, retratos e especulações. Você encontrará issoem todos os capítulos sobre todas as pessoas. Nada, porém, instigatantos questionamentos quanto o nascimento de Cristo. Os persona-gens surgem e desaparecem antes que possamos perguntar qualquer coisa a eles. O dono da hospedaria que estava ocupado demais parareceber o próprio Deus — será que, algum dia, ele chegou a saber aidentidade daquele a quem desprezou? E os pastores? Será que ficavamcantarolando a canção que ouviram os anjos entoarem? Os sábios queseguiram a estrela: o que significava adorar um bebê? E José, especial-mente José. Tenho várias perguntas a fazer a José.Você disputava quedas de braço com Jesus? Será que ele deixavavocê ganhar?Você já ergueu os olhos ao céu em oração e conseguiu ver Jesusouvindo?Como se diz "Jesus" em egípcio?O que aconteceu com os homens sábios?O que aconteceu com você? Não sabemos o que houve com José. Seu papel no primeiro atoé tão importante que esperávamos vê-lo no restante da história; noentanto, com exceção de uma cena breve ao lado de Jesus (na época,com doze anos de idade), em Jerusalém, ele nunca mais reaparece. Orestante de sua vida é pura especulação. Somos obrigados a guardar nossas dúvidas.Mas, entre todas as minhas perguntas, a primeira seria sobreBelém. Eu gostaria de saber sobre aquela noite na estrebaria. Possoimaginar José naquele lugar. Os pastos iluminados pela lua. As estrelas brilhando no céu. À distância, Belém brilha na escuridão. E lá está José,esperando com paciência do lado de fora da estrebaria.
No que ele estava pensando enquanto Jesus nascia? O que se passava por sua mente enquanto Maria dava à luz? Ele fez tudo quan-to estava ao seu alcance: esquentou a água, preparou um lugar onde aesposa pudesse se deitar. Ofereceu a Maria o máximo de conforto pos-sível dentro de um galpão e, em seguida, saiu. Ela lhe pedira para sair, eJosé achou mesmo que era a melhor coisa a fazer. Naquela eternidade entre o pedido de Maria e o nascimento deJesus, no que José pensava? Ele caminhou a noite inteira, olhando asestrelas. Será que orou?Por alguma razão, não consigo imaginá-lo em silêncio. Vejo Joséagitado, andando de um lado para o outro. Em determinado momento,mexe a cabeça; no instante seguinte, balança os braços. Não era bem issoque ele tinha em mente. Fico imaginando o que ele teria dito a Deus... Não foi assim que eu planejei. Deus. De jeito nenhum. Meu filho nas-cendo em uma estrebaria? Não foi assim que imaginei que seria. Umacaverna com ovelhas e burros, palha e feno? Minha esposa dando àluz tendo apenas as estrelas como testemunhas de sua dor? Não foi assim que imaginei, não mesmo. Queria a família reunida.Queria as avós aqui, os vizinhos se amontoando do lado de fora dacasa, os amigos ao meu lado. Queria o som do primeiro choro do bebê enchendo a casa. Tapinhas nas costas. Muito riso e júbilo.Achei que seria assim.A parteira colocaria meu filho em meus braços e todo mundoaplaudiria. Maria poderia descansar. Depois, celebraríamos. Toda Nazaré celebraria conosco.Mas agora... veja só. Estamos a cinco dias de distância de Nazaré. Eaqui estamos nós em um... em um pasto de ovelhas. Quem celebraráconosco? As ovelhas? Os pastores? As estrelas?Tem alguma coisa errada aqui. Que tipo de marido sou eu? Nãoconsegui nem uma parteira para ajudar minha esposa. Não há sequer uma cama na qual ela possa se deitar. O travesseiro é a manta que uso  para colocar sobre o meu burro. A casa que posso oferecer a ela é umabrigo cheio de palha e feno. O cheiro é ruim, os animais fazem muito barulho. Por quê? Até eu mesmo estou cheirando como um pastor.Será que fiz alguma coisa errada? Fiz, Deus?Quando o senhor enviou o anjo para falar sobre o filho que nas-ceria, não foi isso que imaginei. Vislumbrei Jerusalém, o templo, ossacerdotes e as pessoas se aproximando para ver. Talvez um cortejo.Um desfile. No mínimo, um banquete. Afinal de contas, trata-se do Messias!
Ou então, se não fosse para nascer em Jerusalém, que tal Nazaré?Será que não seria melhor para o bebê nascer lá? Pelo menos lá eutenho a minha casa e meus negócios. Fora dali, o que tenho? Umamula cansada, um pouco de lenha para a fogueira e um jarro de águaquente. Não foi desse jeito que eu queria que acontecesse! Não foiassim que planejei o nascimento de meu filho.Ai, meu Deus, fiz aquilo de novo. Fiz de novo, não foi. Pai? Não eraessa a minha intenção. Foi só por esquecimento.Ele não é meu filho... é seu. A criança é sua. O plano é seu. A idéiaé sua. E perdoe-me por questionar, mas... é assim que Deus entra nomundo? A chegada do anjo, eu aceitei. As perguntas que as pessoasfaziam sobre a gravidez, consigo tolerar. A viagem a Belém, tudo cer-to. Mas por que o nascimento do bebê em uma estrebaria. Deus?A qualquer momento, Maria dará à luz. Não a uma criança qual-quer, mas ao Messias. Não a um simples bebê, mas ao próprio Deus. Foio que o anjo disse. Ê nisso que Maria acredita. E Deus, meu Deus, é nis-so que eu também quero acreditar. Mas tenho certeza de que o senhor entende. Não é fácil. Parece muito... muito... muito... esquisito. Não estou acostumado com tanta coisa fora do comum. Deus. Souum carpinteiro. Faço as coisas se encaixarem. Meço as bordas. Sigoo prumo. Só corto a madeira depois de medir duas vezes. Gente quemonta coisas não está acostumada com surpresas. Gosto de ter um plano. Gosto de ver o plano antes de começar.
Contudo, desta vez não sou eu quem está montando nem cons-truindo, sou? Desta vez, sou apenas uma ferramenta. Um martelo emsuas mãos. Um prego entre seus dedos. Uma talhadeira à sua disposição.Esse projeto é seu, não meu.Acho que é uma bobagem de minha parte questionar o senhor.Perdoe-me por todo esse conflito. Essa coisa de confiança não é muitofácil para mim. Deus. Mas o senhor nunca disse que seria fácil, não é?Só mais uma coisa, Pai. Sabe aquele anjo que o senhor mandou?Daria para enviar outro? Se não puder ser um anjo, pode ser uma pessoamesmo. Não conheço ninguém por aqui, e seria ótimo ter alguém parame fazer companhia. Pode ser o dono da hospedaria, um viajante, tantofaz. Até um pastor serve.Eu fico pensando: será que José fez uma oração desse tipo? Talvezsim. Talvez não.Mas é provável que você tenha feito.Você já esteve na mesma situação de José; o conflito entre aquiloque Deus diz e aquilo que faz sentido. Fez o que o Senhor mandou só para depois ficar na dúvida se tinha sido mesmo, antes de tudo, umaordem divina. Ficou olhando para um céu obscurecido pela dúvida.Então, balbuciou as mesmas perguntas de José.Perguntou a Deus se ainda estava no caminho certo. Perguntou sedeveria virar à esquerda ou à direita. E, depois, perguntou se esse esque-ma todo faz parte de algum plano. As coisas não funcionaram muito do jeito que você achava que funcionariam.Cada um de nós sabe o que é atravessar a noite procurandouma luz. Não do lado de fora de uma estrebaria, mas (quem sabe?) naantessala de um pronto-socorro. No acostamento de uma estrada. Nogramado bem cuidado de um cemitério. Fizemos as nossas perguntas.Questionamos os planos de Deus. E ficamos tentando imaginar por queDeus faz as coisas assim. O céu de Belém não foi o primeiro a ouvir osclamores de um peregrino confuso.
Se você está questionando as coisas como José, permita-me suge-rir que aja também como ele: obedeça. Ele obedeceu quando o anjo ochamou. Ele obedeceu quando Maria explicou o que estava acontecen-do. Ele obedeceu quando Deus o enviou.Ele foi obediente a Deus.Ele foi obediente quando o céu estava claro.Ele foi obediente quando o céu estava escuro.Ele não permitiu que uma confusão em sua mente o impedisse deobedecer. Ele não sabia tudo o que estava acontecendo, mas fez o quesabia que tinha de fazer. Encerrou seus negócios, fez as malas, pegoua família e partiu para outras terras. Por quê? Porque foi o que Deusmandou fazer.E quanto a você? Tal como José, não consegue enxergar todo o panorama dos acontecimentos. Tal como José, sua tarefa é compreender que Jesus foi trazido à terra para fazer parte de seu mundo. E, tal comoJosé, você tem uma escolha a fazer: obedecer ou desobedecer. E por Joséter obedecido. Deus o usou para mudar o mundo. Será que ele podefazer o mesmo com você?Deus ainda procura pessoas como José hoje em dia. Homens emulheres que acreditam que o Senhor ainda tem muita coisa a fazer neste mundo. Gente comum que serve a um Deus incomum.Você se dispõe a ser uma pessoa assim? Será capaz de servir,mesmo quando não entender o que está acontecendo? Não, o céu de Belém não foi o primeiro nem o último a ouvir os clamores de um coração sincero. E é possível que Deus não tenhaoferecido respostas a todas as perguntas que José fez. Mas ele respondeuà mais importante: — O senhor continua comigo, Deus?E foi por intermédio do primeiro choro do menino-Deus que veioa resposta. — Sim, sim, José, ainda estou com você.
Há muitas perguntas sobre a Bíblia que não seremos capazes deresponder até chegarmos ao nosso lar eterno. Muitos buracos na cerca.Muitos retratos. Por várias vezes, teremos de parar para pensar: "Eu ficoimaginando..."Contudo, em nossas conjecturas, há algumas perguntas que nuncateremos de fazer. Será que Deus se importa conosco? Somos importan-tes para ele? Ele ainda ama seus filhos?Por intermédio do rostinho daquele bebê nascido em uma estre- baria, ele diz "sim".Sim, seus pecados estão perdoados.Sim, o seu nome está escrito no céu.Sim, a morte foi derrotada.E sim. Deus entrou em seu mundo.Emanuel. Deus conosco.